Provas de uso do fogo por humanos há 50 mil anos desafiam percepções históricas
Um estudo revela que os humanos começaram a utilizar o fogo de forma ampla há 50 mil anos, alterando significativamente o ambiente, muito antes do que se pensava.

Um novo estudo realizado por investigadores do Instituto de Oceanologia da Academia Chinesa de Ciências (IOCAS), em colaboração com especialistas da China, Alemanha e França, vem à tona com revelações surpreendentes sobre o uso do fogo por humanos. Analisando restos vegetais carbonizados encontrados num núcleo de sedimento de 300.000 anos do mar da China Oriental, a pesquisa sugere que a manipulação do fogo começou de forma extensiva há cerca de 50.000 anos.
De acordo com o autor principal do estudo, Zhao Debo, estas descobertas contradizem a crença comum de que o impacto humano sobre o ambiente através do fogo se iniciou apenas no Holocénico. O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), destaca a presença de carbono pirogénico, um resíduo derivado da queima incompleta da vegetação.
A investigação demonstrou um aumento notável da atividade de fogo no leste asiático durante este período, alinhando-se com observações similares de explosão de fogo em outras regiões, como a Europa e o sudeste asiático. Isto sugere uma utilização do fogo a uma escala muito maior a nível continental.
Os paleoantropólogos afirmam que todos os humanos modernos têm origem africana, com o Homo sapiens a emergir há cerca de 300.000 anos. Entre 70.000 e 50.000 anos atrás, as migrações deste grupo por diferentes continentes levaram à substituição de populações humanas mais antigas.
A correlação entre o aumento do uso do fogo e a expansão do Homo sapiens não pode ser ignorada. Este aumento proporcionou melhores condições para a cozedura de alimentos, promovendo a absorção de nutrientes e oferecendo proteção contra predadores em ambientes hostis.
Além disso, a dependência do fogo catalisou avanços culturais e inovações tecnológicas, ao mesmo tempo que teve um impacto profundo nos sistemas naturais e no ciclo do carbono. É plausível que a utilização do fogo tenha começado a moldar ecossistemas e alterar o ciclo global de carbono mesmo antes da Última Idade do Gelo.
Wan Shiming, coautor do estudo, afirma que “durante a Última Idade do Gelo, a utilização do fogo já poderia estar a transformar os ecossistemas e os fluxos de carbono”. Esta pesquisa lança luz sobre as interações complexas entre a atividade humana e as mudanças climáticas ao longo da história.
Se a gestão do fogo já estava a influenciar os níveis de carbono atmosférico há milhares de anos, isso pode οδηgрыe a uma revisão dos modelos climáticos contemporâneos, subestimando a importância das interações homem-ambiente ao longo da história.