90 Anos do Dalai Lama: Celebrações em Exílio em Meio à Conflitualidade com a China
O Dalai Lama celebra 90 anos numa atmosfera de tensão com a China, que limita as celebrações no Tibete, enquanto o líder espiritual reforça a continuidade da sua linhagem.

O 14.º Dalai Lama assinala este domingo o seu 90.º aniversário, uma data que chega após uma semana de festividades entre os seus seguidores, mas que também é marcada por um cenário de confronto com a China.
Recentemente, o líder espiritual tibetano desfez as especulações acerca do seu legado, reafirmando que não será o último a ocupar esse título. Durante as celebrações, o Dalai Lama expressou a sua expectativa de vida, dizendo que espera viver “mais 30 ou 40 anos”. “Fiz o meu melhor até agora. Assumo a minha responsabilidade com determinação e coragem”, afirmou.
O Dalai Lama atribui a sua força à fé em Avalokiteshvara, a divindade da compaixão, da qual se considera uma manifestação. “Sinto que as suas bênçãos estão sempre comigo. Ao acordar, rezo para cultivar a mente do despertar”, frisou.
Além disso, o líder espiritual exortou os seus seguidores a manterem viva a fé coletiva, citando a Revolução Cultural Chinesa como exemplo do poder da determinação conjunta. “Durante esse período, os chineses mostraram uma notável força através dos seus esforços coletivos”, destacou.
O Kashag, o governo tibetano no exílio, denunciou que as autoridades chinesas estão "a proibir à força" os tibetanos no Tibete de comemorarem o aniversário do Dalai Lama. Enquanto os tibetanos no exílio celebram abertamente, os que permanecem no Tibete enfrentam restrições severas, incluindo vigilância e intimidação por parte dos responsáveis locais.
Este ambiente repressivo inclui campanhas de “educação patriótica” que visam substituir a lealdade ao Dalai Lama pela lealdade ao Partido Comunista Chinês. O governo no exílio apelou ao “poder suave” do povo tibetano, enfatizando que os ensinamentos de compaixão do Dalai Lama não poderão ser subjugados por forças hostis.
No contexto da recuperação da sua sucessão, o Dalai Lama anunciou que a busca pelo próximo líder espiritual deverá seguir as tradições estabelecidas desde 1587. “A instituição do Dalai Lama vai continuar”, reforçou, esclarecendo que o processo de escolha do seu sucessor deverá ocorrer “de acordo com a tradição budista tibetana”.
A posição do Dalai Lama entra em conflito com os planos da China, que busca controlar a sucessão e decidir quem será seu sucessor, promovendo uma relação cada vez mais tensa. Desde 1959, o Dalai Lama reside em exílio na Índia, liderando a luta pela autonomia do Tibete e pela preservação da sua cultura ancestral.