Líder de milícia em Gaza revela cooperação com Israel contra o Hamas
Abu Shabab, líder de uma milícia palestiniana, admite pela primeira vez colaborar com Israel e não descarta confrontos diretos com o Hamas em busca de um cessar-fogo.

Na primeira declaração do género, o líder da milícia palestiniana Abu Shabab revelou que a sua organização colabora “a algum nível com Israel”, uma afirmação que ecoa as recentes declarações do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Durante uma entrevista à estação de rádio israelita Makan, Abu Shabab explicou que, durante as suas operações, mantém contacto com as autoridades israelitas “para informar sobre as missões” e que somente realiza estas ações caso receba apoio por parte do Estado israelita.
O líder da milícia não hesitou em afirmar que está disposto a entrar em confronto com o Hamas. Este movimento, que inclui a rendição do Hamas como condição mínima para um cessar-fogo, foi descrito como uma resposta à “amargura e injustiça” que a sua milícia sofreu nas mãos do grupo islamita. “Temos a responsabilidade de fazer frente a esta agressão. Não excluímos um confronto ou mesmo uma guerra civil, custe o que custar”, declarou.
Abu Shabab, de 32 anos e oriundo de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, fugiu da prisão onde estava detido pelas autoridades do Hamas, que o haviam condenado por tráfico de drogas. De acordo com o Middle East Monitor, foi alegadamente recrutado pelos serviços de segurança de Israel para desestabilizar o Hamas após o ataque deste a Israel a 7 de outubro de 2023, desencadeando a atual guerra em Gaza.
Netanyahu, em declarações anteriores, reconheceu o financiamento de Abu Shabab e da sua milícia, chamada “Forças Populares”, e justificou tal apoio como uma forma de salvar vidas de soldados israelitas, abordando acusações de que o governo estaria a armar grupos criminosos. “O que há de errado nisso?”, questionou, refletindo a natureza controversa deste tipo de colaboração.
O Hamas reagiu às declarações de Netanyahu e às atividades da milícia de Shabab, acusando-a de traição e apelando à população para se opor a esta colaboração. Em declarações à agência AFP, Michael Milshtein, especialista em assuntos palestinianos, esclareceu que Abu Shabab pertence a uma tribo beduína com histórico em atividades ilícitas. A análise dele sugere que os serviços de segurança israelitas viram um potencial em transformar esta milícia num agente das suas operações, armando-a e protegendo-a.
Desde o início da ofensiva israelita em Gaza, o número de mortos entre os palestinianos ultrapassou as 57.300 pessoas, enquanto o ataque inicial do Hamas a Israel levou à morte de aproximadamente 1.200 pessoas e ao sequestro de 251 reféns. O Hamas é considerado por Israel, Estados Unidos e União Europeia como uma organização terrorista.