A Influência das Normas Culturais no Sono e na Saúde: Novas Descobertas
Pesquisas recentes indicam que as normas culturais afetam a relação entre sono e saúde, sugerindo que a quantidade ideal de sono é variável consoante o país.

O sono é um elemento crucial para a nossa saúde, estando associado a uma variedade de condições médicas como doenças cardíacas, AVC, diabetes e até depressão. A má qualidade do sono também pode influenciar negativamente a sexualidade e o bem-estar emocional.
De acordo com os Institutos Nacionais de Saúde, adultos saudáveis devem dormir entre sete e nove horas por noite. Contudo, investigações recentes revelam que esta recomendação pode não ter validade universal. Estas pesquisas sugerem que as normas e expectativas culturais desempenham um papel importante na quantidade de sono necessária para uma saúde ideal.
No âmbito do Centro Bronfenbrenner de Investigação Translacional da Universidade Cornell, a diversidade das práticas de sono ao redor do mundo é um aspecto a ser considerado.
Por exemplo, no Japão, a média de horas de sono é de apenas sete por noite, e a prática cultural de 'inemuri' permite sestas curtas em locais públicos ou de trabalho. Da mesma forma, espanhóis e italianos também dormem cerca de sete horas por noite, mas têm a tradição de realizar uma sesta mais longa à tarde.
Os holandeses e franceses, por outro lado, gozam de mais de oito horas de sono por noite, enquanto os búlgaros chegam a ultrapassar as nove horas.
Qual será a durabilidade do sono que realmente promove a saúde? Um novo estudo, publicado nos Proceedings of the National Academies of Sciences, busca responder a essa questão. Os investigadores analisaram dados de monitoramento do sono provenientes de 70 países, correlacionando-os com estatísticas de saúde pública, como a prevalência de doenças cardíacas, obesidade, diabetes e a expectativa de vida.
Os resultados foram surpreendentes: a duração média do sono em cada país não se mostrou um indicador confiável de saúde. Apesar de o Japão ter uma média de sono mais curta, não apresentou taxas mais elevadas de doenças nem uma expectativa de vida inferior em comparação a países onde o sono é mais prolongado. Curiosamente, uma maior duração média de sono estava associada, em alguns casos, a taxas de obesidade mais altas.
Para explorar melhor esta questão, os investigadores realizaram outro estudo, entrevistando quase 5000 participantes de 20 países sobre os seus hábitos de sono e as respetivas percepções de saúde e normas culturais.
No que toca a nível individual, os resultados revelaram que aqueles que dormiram a quantidade considerada ideal notaram uma melhoria na saúde, enquanto os que referiram horas de sono excessivas ou insuficientes relataram problemas de saúde, alinhando-se a estudos anteriores.
Contudo, a pesquisa revelou uma faceta interessante: a quantidade de sono que correlaciona com uma saúde melhor variou consoante o país. Numa análise global, a quantidade ideal de sono era sempre superior à média nacional de cada país, e os indivíduos que respeitavam mais o padrão nacional tendiam a reportar uma saúde superior.
Esta informação destaca um conceito em sociologia conhecido como "adequação cultural". Quando as crenças e comportamentos de um indivíduo estão alinhados com as normas sociais, existem benefícios tanto psicológicos como fisiológicos.
Não obstante, o estudo apresenta limitações. Embora as variáveis como estatuto socioeconómico, nutrição e localização geográfica tenham sido consideradas, outros fatores poderiam ter influenciado os resultados. Apesar disso, a pesquisa acrescenta novas perspetivas sobre como a cultura impacta o sono e a saúde.