"Ana Markl abre o coração sobre a adolescência e o seu novo livro"

'Do Outro Lado do Tempo' é a mais recente obra de Ana Markl, onde a autora revisita os seus diários da infância em uma narrativa que nos transporta para os vibrantes anos 90, repleta de humor, música e o peso da adolescência.

No livro, Markl propõe um diálogo imaginário entre a Ana do passado e a Ana do presente, explorando dilemas que ultrapassam gerações e proporcionando consolo àqueles que atravessam as mesmas questões.

Durante uma entrevista, discutimos as inspirações por trás deste projeto. Ana revela que ao escrever para adolescentes, procurou conectar-se com os sentimentos universais que ainda permeiam a juventude de hoje. “Ao selecionar excertos que considero atemporais, fiz com que a Ana do presente interagisse com a Ana do passado. O objetivo era trazer conforto à Ana que fui, mas também aos adolescentes de agora,” explica.

A autora confessou ter revivido memórias se reconhecendo em suas próprias inseguranças, mas também descobrindo que a escrita tinha sido o seu superpoder para a autoanálise. “Embora pudesse sofrer socialmente, eu sempre tive a capacidade de dialogar comigo mesma.”

Sobre os anos 90, Ana destaca a intensidade da sua paixão pela música: “Os primeiros concertos, festivais, tudo isso está presente na narrativa, assim como as primeiras paixões.”

Durante a conversa, Ana compartilhou que se sentia “demasiado estranha para os normais e demasiado normal para os estranhos”, refletindo sobre a busca por identidade comum a muitos. A luta interna entre ser aceita e ser fiel a si mesma foi um dos maiores desafios que enfrentou na adolescência. “Às vezes sentia-me sozinha, mas percebo agora que muitos também partilhavam esse sentimento.”

Questionada sobre os adolescentes atuais, Ana reconhece que, apesar de novos desafios, a falta de autoestima ainda é uma constante. “Os jovens continuam a ser tratados como se fossem projetos de adultos, quando, na verdade, cada um é um indivíduo com uma voz própria.”

As preocupações da autora sobre a forma como os jovens se refugiam em ecrãs evidenciam outra camada dos dilemas modernos. “A pressão por aceitação hoje é mais feroz e dá origem a discursos de ódio que apenas promovem raiva, e não consolo.”

Para Ana, a solução passa por amor, confiança e autonomia. “É vital que não olhemos para os jovens com desdém, mas sim com a vontade de ouvi-los e apoiá-los.”

Por fim, Ana Markl deixou um conselho à sua versão mais jovem, incentivando-a a ser autêntica, a confiar no seu corpo e a nunca desistir do que ama.