António Raminhos: "Os meus pais levaram-me a uma 'médium' para tratar da minha saúde mental"

António Raminhos, um dos defensores mais ativos da saúde mental na comédia, partilhou a sua história em entrevista com Vasco Palmeirim no podcast 'Dos Pés à Cabeça'. Diagnosticado com Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC) e ansiedade, o humorista revelou que apenas encontrou um psicólogo aos 26 anos.

Desde muito jovem, Raminhos lidou com preocupações obsessivas e ansiedade, mas a falta de compreensão naquele tempo dificultou o seu percurso. "Nos anos 80, não havia um diálogo aberto sobre saúde mental. Se alguém estava deprimido, era simplesmente visto como um indivíduo estranho", confessou.

Sobre a abordagem que os seus pais tiveram, António não hesita: "Fui levado a uma 'médium', a Dona Manuela, que foi a minha primeira experiência com um profissional. O mais importante é que ela me ouviu e validou o que eu sentia, algo que ninguém havia feito antes".

Raminhos explicou a luta permanente contra os seus pensamentos, diferenciando a experiência de quem sofre com transtornos: "Todos têm pensamentos recorrentes, mas os que enfrentam a ansiedade ou POC ficam aprisionados nesses pensamentos, que provocam uma ansiedade extrema".

Ele recorda um período na sua adolescência em que a contaminação era uma preocupação constante, a ponto de evitar sair de casa. "Cheguei a não usar transportes públicos por medo", disse. A primeira visita a um psiquiatra foi marcada por nervosismo, a ponto de esperar 20 minutos à porta do consultório para não ser visto.

No palco, Raminhos também enfrentou desafios. Revelou que já teve ataques de pânico durante os espetáculos: "É uma sensação de morte iminente, como se estivesse a viver duas realidades ao mesmo tempo". Porém, aprendeu a lidar com essas situações, mantendo um diálogo interno que o ajuda a acalmar-se durante as apresentações.