O Cinema Moçambicano: Resiliência em Tempos Difíceis
Sol de Carvalho revela que, apesar das dificuldades financeiras, o cinema em Moçambique mantém-se vivo, enfrentando desafios e lutando por um futuro mais promissor.

Em entrevista à Lusa, o realizador moçambicano Sol de Carvalho, natural da Beira, abordou a atual situação da indústria cinematográfica em Moçambique, destacando a estreia, em Portugal, do seu filme 'O Ancoradouro do Tempo', uma adaptação da obra 'A Varanda do Frangipani' de Mia Couto.
Nos anos 80, após a independência do país, o cinema prosperou de tal forma que se tornou a terceira instituição mais lucrativa do Estado. “A distribuição, exibição e produção foram nacionalizadas, e havia uma grande afluência às salas de cinema, uma vez que as televisões não estavam presentes nas residências”, explicou o realizador, sublinhando a importância do cinema como meio de disseminar mensagens por todo o território moçambicano.
Com a introdução da televisão, a dinâmica do cinema naturalmente mudou, mas Sol de Carvalho defende que esta arte continua a ser um veículo artístico significativo. Contudo, o cinema moçambicano enfrenta “feridas profundas”, sendo a falta de financiamento a principal delas. “Apesar da abundância de talento, muitos jovens cineastas estão a produzir filmes praticamente sem recursos.”
Ele acredita que Moçambique está a viver um período de transformação, onde reencontrar a importância do cinema e estabelecer vínculos mais robustos com a televisão pública constituem passos essenciais. “As salas de cinema estão frequentemente distantes dos centros populacionais, fazendo com que as pessoas tenham de recorrer a transportes públicos para assistir a filmes.”
Quando questionado sobre a verdadeira independência do cinema moçambicano em relação à antiga metrópole, o realizador afirmou que “muitos países raramente alcançam uma completa independência cultural”. Segundo ele, as relações internacionais e financeiras atuais geram um interligamento significativo, onde até Portugal, apesar das suas condições, também depende de apoios externos. Sol de Carvalho conclui que, para um país africano com um elevado nível de pobreza, a plena independência cultural é uma tarefa árdua, uma vez que esta depende, em grande parte, de financiamento nacional para a produção cultural.