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Adoção crescente da IA entre trabalhadores portugueses, mas verificação dos dados ainda é insuficiente

Um estudo revela que, apesar da popularidade das ferramentas gratuitas de IA entre os trabalhadores, 43% não verificam a precisão das informações que estas fornecem.

18/06/2025 07:11
Adoção crescente da IA entre trabalhadores portugueses, mas verificação dos dados ainda é insuficiente

Um recente estudo, intitulado "Confiança, utilização e atitudes em relação à IA", realizado pela KPMG em colaboração com a Universidade de Melbourne, analisou as atitudes de mais de 48 mil indivíduos de 47 países, incluindo mais de mil inquiridos em Portugal.

Os dados mostram que a inteligência artificial (IA) tem um papel crescente na vida dos portugueses, com 70% dos participantes a relatar o uso durante o trabalho, 93% no âmbito académico e 79% para objetivos pessoais. No entanto, esta percentagem de utilização no local de trabalho é ligeiramente inferior à média global, que se fixa em 73%.

O relatório destaca que 83% dos trabalhadores entrevistados utilizam ferramentas de IA de acesso livre, enquanto apenas 29% recorrem a soluções disponibilizadas pelas suas empresas ou instituições de ensino, com meros 8% a optar por alternativas pagas.

Ainda segundo a análise, a KPMG alerta para algumas preocupações, principalmente relacionadas com a ausência de políticas internas claras sobre o uso da IA. Apenas 22% dos inquiridos confirmam que as suas empresas possuem diretrizes, sendo que 18% mencionam que estas são orientadoras e 4% que são proibições.

Outro ponto crítico é a escassez de formação e literacia digital, que resulta numa preocupante falta de pensamento crítico. O estudo indica que 43% dos trabalhadores raramente ou ocasionalmente validam a veracidade das informações produzidas pelas ferramentas de IA, com 3% a confessar que nunca realizam essa verificação. Por outro lado, 54% afirmam que fazem essa verificação regularmente.

Menos de metade dos inquiridos (45%) utiliza a IA de maneira crítica, enquanto 51% raramente ou ocasionalmente pondera os riscos e benefícios de utilizar estas ferramentas. Além disso, 56% admite que raramente ou ocasionalmente reflete sobre questões éticas envolvidas.

O estudo também revela que 29% dos inquiridos percepcionam um aumento do risco organizacional associado ao uso da IA, com 19% a confessar que carregaram, por vezes, dados sensíveis da empresa em ferramentas de IA públicas, incluindo informações financeiras e de clientes.

Apesar das preocupações, mais de 56% dos trabalhadores acreditam que a IA melhorou a sua eficiência laboral e cerca de metade considera que impulsionou a inovação e o acesso a informações precisas (52% e 49%, respetivamente). Além disso, 45% sentem que houve uma redução na carga de trabalho e 42% referencia uma diminuição no stress.

João Sousa Leal, responsável pela área de consultoria da KPMG em Portugal, defende que a adopção da IA deve focar na complementação do conhecimento humano, não na sua substituição. Ele sugere uma ênfase na literacia digital e na formação tecnológica dos colaboradores, assim como um sólido modelo de governança interna.

Este ponto de vista é amplamente partilhado entre os inquiridos, com 82% a indicar que preferem alguma integração da IA nos processos decisórios, desde que a supervisão permaneça humana.

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