Guterres alerta que sistema de ajuda em Gaza pode ser letal
O secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou o sistema de ajuda vigente em Gaza, afirmando que está a causar mortes e instabilidade entre civis.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, manifestou hoje a sua preocupação quanto ao sistema de ajuda em Gaza, imposto por Israel, afirmando que está "a matar pessoas". Guterres destacou que "qualquer operação que leve civis desprotegidos para áreas de risco militar é, por natureza, insegura".
O comentário do líder da ONU surge em resposta às ações do Fundo Humanitário de Gaza, uma entidade criada pelos Estados Unidos e aprovada por Israel, que opera à margem da estrutura das Nações Unidas. As distribuições de alimentos por este fundo têm desencadeado episódios de desordem e violência, levando à intervenção do exército israelita que, em diversas ocasiões, disparou contra palestinianos à procura de comida.
Até agora, mais de 500 vidas foram perdidas durante essas operações de distribuição de alimentos. Uma investigação do jornal israelita Haaretz revelou que soldados encarregados de supervisionar essas entregas receberam ordens para disparar intencionalmente contra as multidões, tanto antes como após a distribuição dos alimentos.
Questionado sobre a veracidade das informações, Guterres afirmou: "Não precisamos de reportagens dessa natureza para reconhecer que houve violações maciças do direito internacional. Quando ocorrem tais violações, deve haver responsabilização."
O secretário-geral frisou que "as pessoas estão a ser mortas simplesmente ao tentar alimentar-se a si próprias e às suas famílias. A busca por alimento nunca deve ser um ato passível de condenação à morte". Guterres sublinhou ainda que "Israel, como potência ocupante, tem a obrigação de facilitar a ajuda humanitária".
Guterres argumentou que não é necessário aplicar modelos de ajuda prejudiciais, uma vez que a ONU já dispõe de um "plano detalhado que se baseia em princípios humanitários de humanidade, imparcialidade, neutralidade e independência".
Nos últimos tempos, a desconfiança do governo israelita em relação à ONU tem aumentado consideravelmente. A falta de comunicação com o Secretariado das Nações Unidas e a consideração do governo de Benjamin Netanyahu em desconsiderar a atuação de todas as agências da ONU em Gaza aumentam a tensão.
Por fim, a organização Médicos Sem Fronteiras, em Genebra, manifestou-se também, defendendo que o modelo de assistência criado por Israel "deve ser imediatamente desmantelado", ao considerar que "degrada intencionalmente a população palestiniana, obrigando-a a escolher entre morrer de fome ou arriscar a vida por ajuda mínima".