Alemanha encerra apoio financeiro a resgates no Mediterrâneo
O Governo alemão decide suspender o financiamento a ONG de resgate no Mediterrâneo, um movimento que reflete o endurecimento da sua política migratória.

A Alemanha anunciou hoje que deixará de financiar as organizações não-governamentais (ONG) que realizam resgates de civis no Mediterrâneo e em outras áreas, conforme revelaram fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Esta decisão assinala uma mudança significativa na linha política adoptada pela nova coligação governamental, que tomou posse em Maio, em comparação com a anterior, que apoiava essas iniciativas.
No primeiro trimestre deste ano, foram transferidos ainda 900 mil euros para as ONG, tendo sido destinados um total de 2 milhões de euros em 2024, segundo informações ministeriais. Organizações como a SOS Humanity, a SOS Méditerranée, a Reqship, a Sea-Eye e a Sant'Egidio, todas engajadas no salvamento de migrantes, beneficiarão desta verba. O Mediterrâneo continua a ser uma das rotas migratórias mais perigosas do mundo.
A líder dos Verdes, Britta Hasselmann, classifica a decisão como "dramática", advertindo que poderá intensificar a crise humanitária na região. Já Gorden Isler, presidente da Sea-Eye, expressou preocupação com este "sinal catastrófico", indicando que as organizações poderão ter de permanecer em terra firme, mesmo perante situações de emergência no mar.
A ex-ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, tinha defendido a importância deste apoio, mesmo frente a críticas de que as ONG poderiam estar, mesmo que indiretamente, a facilitar as práticas de tráfico de pessoas. Após a sua ascensão ao cargo de Chanceler, Friedrich Merz, líder da CDU, reiterou a necessidade de uma política migratória restritiva para conter a ascensão do partido de extrema-direita AfD na Alemanha, implementando várias medidas para limitar a entrada de requerentes de asilo, incluindo a rejeição de muitos na fronteira terrestre.
Actualmente, das 21 ONG que operam na frota de resgate no Mediterrâneo central, dez são de origem alemã. Nos últimos dez anos, mais de 175 mil migrantes foram resgatados por estas operações, conforme informado por um coletivo dessas organizações em Junho.