Quando a mente provoca comichão: o fenómeno dos insetos imaginários
Já sentiu comichão ao ouvir falar de insetos? Este fenómeno é comum e tem explicações neurológicas. Descubra como o cérebro desempenha um papel nestas sensações.

Já alguma vez se sentiu incomodado por comichão sem qualquer inseto à vista, apenas ao ouvir sobre eles? Esta é uma experiência partilhada por muitas pessoas e que desperta a curiosidade de especialistas.
De acordo com o agregador de blogues HuffPost, a neurologista Shaheen E. Lakhan explica que a ativação do cérebro vai além da simples percepção da realidade. Quando se fala de insetos ou se imagina uma infestação, os circuitos neurais associados a essas imagens são ativados como se a situação estivesse realmente a ocorrer.
Esse fenómeno é conhecido como comichão contagiosa. É impulsionado pela combinação da ativação somatossensorial, processos emocionais, e a atividade dos neurónios-espelho. Portanto, não é necessário ter uma aranha fisicamente presente para sentir um formigueiro na pele.
A ativação do córtex somatossensorial, que é responsável por processar sensações corporais, faz com que a pessoa experimente a comichão como se tivesse realmente insetos sobre ela. Isto pode ocorrer ao assistir a outra pessoa a viver uma situação semelhante. O chamado espelho neural permite-nos sentir empatia, mas, neste caso, também estende-se à própria sensação de desconforto.
A neurocientista Friederike Fabritius salienta que, seja com insetos reais ou não, a resposta do cérebro é similar e evoluiu como uma forma de nos proteger de possíveis perigos. Isto resulta numa proteção excessiva, levando à comichão mesmo na ausência de uma ameaça tangível.
Um exemplo prático é o de assistir a um documentário sobre piolhos; mesmo com o couro cabeludo limpo, é comum sentir um formigueiro. O cérebro pré-ativo funciona como um alerta, semelhante a um alarme de incêndio ao detetar fumo.
Embora essa sensação seja comum, a intensidade da mesma pode variar de pessoa para pessoa. Algumas são mais propensas à ansiedade e, em momentos de stress ou nervosismo, têm mais probabilidade de sentir esta comichão fantasma.
No entanto, existem estratégias que podem ajudar a controlar essa sensação. Reconhecer que a comichão é gerada pelo cérebro é o primeiro passo. Reformulação cognitiva e a lembrança de que se trata de uma falha do sistema pode dar aos indivíduos um certo controlo sobre a experiência.
Outras técnicas incluem a utilização de água ou objetos com diferentes texturas, que transmitem novos sinais ao cérebro. Relaxar e reduzir a vigilância também pode contribuir para diminuir a sensação de comichão.