Clínicas de diálise enfrentam um futuro incerto devido à falta de atualização de preços
A ANADIAL denuncia condições críticas nas clínicas de diálise, pedindo uma revisão dos pagamentos estagnados pelo Estado, que afeta a continuidade do tratamento.

A Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL) expressou hoje a sua preocupação quanto à grave situação que as clínicas de tratamento de doença renal crónica estão a enfrentar, sublinhando a necessidade urgente de uma revisão dos valores pagos pelo Estado a estas instituições.
O presidente da ANADIAL, Paulo Dinis, explicou à Lusa que as empresas estão a fornecer este tipo de tratamento desde 2008, sem qualquer atualização nos preços, que já sofreram uma diminuição de 18% ao longo dos anos. “Estamos numa fase crítica onde a continuidade dos cuidados prestados se encontra ameaçada”, afirmou Dinis.
De acordo com a ANADIAL, a quantia que o Estado paga às clínicas privadas por tratamentos de diálise, consultas e exames sofreu uma redução significativa, acumulando uma diminuição de 77,85 euros entre 2008 e 2022. Dinis destacou que “este valor fixo é calculado por doente e por tratamento e não aumenta, mesmo que o doente necessite de mais sessões de diálise por semana.”
Durante a apresentação do estudo intitulado “A doença renal e a diálise em Portugal - a visão dos Portugueses”, realizado em colaboração com a Spirituc, o presidente da associação sugeriu a implementação de um mecanismo similar ao da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) para regular os preços de diálise. “Isso não só resolveria as dificuldades atuais, mas também protegeria os interesses de todos a longo prazo”, acrescentou.
A pesquisa, que foi realizada com 1.510 participantes, revelou que 80% dos inquiridos desejam uma maior valorização das entidades privadas no setor da diálise. Em resposta a uma pergunta sobre este assunto, Dinis comentou que a proposta do Governo de complementaridade entre os sectores público e privado não representa uma novidade para eles, afirmando que a parceria actual já resultou significativamente na hemodiálise, reduzindo a carga sobre o Estado.
O estudo também indicou que 82% dos entrevistados estão cientes da alta taxa de mortalidade associada ao tratamento inadequado da doença renal crónica, embora a mortalidade em Portugal tenha permanecido em níveis mínimos nos últimos anos, com uma taxa em torno dos 13%. Dinis alertou que, sem uma intervenção adequada, essa doença silenciosa, que frequentemente resulta da hipertensão e diabetes, pode tornar-se uma das principais causas de morte até 2040.
Por fim, o presidente revelou que ainda se verifica um aumento de 1% a 1,5% no número de doentes anualmente, representando cerca de 13 mil utentes em tratamento diário, o que equivale a aproximadamente 0,1% da população.