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Indícios indicam que BES não contava com reembolso de empréstimos a BESA

Perante o tribunal, responsável pela auditoria de 2014 ao BES afirma que o banco português não esperava recuperar os valores emprestados à sua subsidiária angolana, BESA.

27/06/2025 23:30
Indícios indicam que BES não contava com reembolso de empréstimos a BESA

A responsável pela auditoria realizada em 2014 ao Banco Espírito Santo (BES), focada na sua relação financeira com o Banco Espírito Santo Angola (BESA), declarou hoje em tribunal que existem pistas que sugerem que o BES não contava com reembolsos dos empréstimos concedidos à sua subsidiária angolana.

O montante em questão ascende a milhares de milhões de euros, sendo que o BES financiou o BESA através de linhas do Mercado Monetário Internacional (MMI) entre, pelo menos, o final de 2007 e o verão de 2014.

Entre os elementos que indicam a falta de expectativa do BES em recuperar os valores emprestados, destaca-se a existência de renovações sucessivas de empréstimos sem qualquer pedido formal da parte do BESA, conforme explicou Vera Pita, a responsável pela auditoria, durante o julgamento.

"Não existe um histórico de pagamentos do BESA ao BES", enfatizou, atuando como testemunha.

A consultora acrescentou que apenas em fevereiro de 2013 foi estabelecido um "limite global" para as linhas de crédito do MMI no BES, que, no entanto, não foi respeitado.

De acordo com a testemunha, o primeiro grande montante de financiamento do BES ao BESA ocorreu no segundo semestre de 2008, quando foram emprestados cerca de 1.500 milhões de dólares à subsidiária angolana para a subscrição de obrigações do Tesouro local.

"Pelo menos 1.240 milhões foram realmente utilizados para esse propósito", revelou, acrescentando que sua equipe não conseguiu esclarecer a aplicação dos restantes 760 milhões de dólares que o BESA resgatou do investimento.

"Não há evidências de que esse valor tenha sido utilizado para saldar o MMI", frisou.

Segundo a acusação do Ministério Público, em 31 de julho de 2014, a exposição do BES ao BESA totalizava 4.783 milhões de euros.

Entre os cinco arguidos que estão a ser julgados neste caso, destacam-se os ex-presidentes do BES, Ricardo Salgado, e do BESA, Álvaro Sobrinho. Os arguidos enfrentam acusação de abuso de confiança, branqueamento de capitais e burla, negando a prática de qualquer crime.

O julgamento teve início a 5 de maio no Tribunal Central Criminal de Lisboa. Vale lembrar que o BES declarou falência no verão de 2014 e o BESA foi liquidado em outubro desse mesmo ano.

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